Mais para o interior da Flórida, o Everglades, região pantanosa cuja água abastece grande parte de Miami, pode um dia ficar inutilizado, devido ao avanço inexorável do oceano, temem alguns cientistas. As Flórida Keys, ilhas que adentram o Golfo do México, ficariam submersas, assim como o condado de Key West.
"Eu não acho que as pessoas tenham noção do quão vulnerável é a Flórida", disse Harold Wanless, presidente do departamento de ciência geológica da Universidade de Miami em uma entrevista na semana passada. "Vamos ganhar 1,2 ou 1,5 ou 1,8 metro de água, ou mais, até o fim do século. É necessário que se acorde para a realidade que está por vir."
O temor sobre o aumento do nível do mar não está restrito apenas aos muros das universidades, mas também dos governos locais ao longo da costa sul do Estado.
Os quatro condados da região - Broward, Miami-Dade, Monroe e Palm Beach, com uma população total de 5,6 milhões - formaram uma aliança para pensar em soluções.
Atingida há muito tempo por furacões, e propensa a ter inundações e intensas tempestades, a Flórida é o Estado mais vulnerável no país em relação ao aumento do nível dos oceanos.
Até mesmo previsões mais modestas do que as feitas por Wanless veem as partes mais baixas do litoral da Flórida com inundações mais frequentes por causa do derretimento das calotas polares e com o aumento do nível dos oceanos.
Grande parte dos 1,9 mil quilômetros da costa da Flórida está apenas a poucos metros acima do atual nível do mar, e prédios, estradas e outras estruturas de
bilhões de dólares ficam sobre estruturas altamente porosas de calcário, que sugam a água como esponjas.
Mas embora autoridades de Everglades e de outras cidades do litoral, muitas das quais participaram de uma conferência sobre mudanças climáticas na semana passada em Fort Lauderdale, tenham começado a falar do problema, a questão atraiu pouca atenção entre os legisladores de Tallahassee.
A questão parece ser igualmente confusa para outros segmentos da sociedade, como empresas, imobiliárias e turismo, que têm interesse em proteger a
movimentada economia do sul da Flórida.
"A comunidade empresarial em sua maior parte não é engajada", disse Wayne Pathman, um advogado de Miami e membro da Câmera do Comércio que participou da conferência de Fort Lauderdale. "Eles ainda não foram afetados. Ainda não entenderam as possibilidades."
Pathman disse que demandará um enorme esforço para encontrar respostas para as importantes questões. Em última análise, segundo ele, o indicador mais saliente da crise será a recusa da indústria de seguros de lidar com o risco nas áreas litorâneas de todo o país que estão expostas ao nível dos mares.
"As pessoas tendem a subestimar a gravidade, eu acho, porque soa distante", disse Ben Strauss, diretor do Programa da Elevação do Nível do Mar na Central do Clima, uma organização independente de cientistas. "As pessoas estão começando a se conscientizar, mas ainda não é uma prioridade. Miami é uma cidade em crescimento econômico agora, mas no futuro, que acredito que virá, será óbvio para todo mundo que o mar está avançando sobre o continente e não vai parar."
Os efeitos nos imóveis seriam devastadores, segundo Strauss. Sua pesquisa mostra que cerca de US$ 156 bilhões em propriedade, 300 mil casas, em 2.120 m² de terra estão a menos de 0,9 metros acima do nível da maré alta da Flórida.
No mesmo nível, segundo Strauss, a Flórida possui 4 mil quilômetros de estradas, 35 escolas públicas, uma hidrelétrica e 966 locais listados na Agência de Proteção Ambiental, como depósitos de resíduos e centros de tratamentos de esgoto.
O montante de imóveis, e o número certo de propriedades potencialmente afetadas, crescem a cada centímetro de elevação do nível dos oceanos.
Wanless insiste que nenhuma ideia da engenharia pode conter o avanço dos mares. "Em 60 centímetros a 90 centímetros começamos a perder tudo", disse.
A única solução, segundo ele, é considerar medidas drásticas como estabelecer um impedimento de construções ao longo da costa e obrigar residentes dessas
áreas de risco a se mudarem mais para o interior."
Autoridades locais dizem que estão fazendo o que podem.
"O céu não está caindo, mas o nível da água esta aumentando", disse Charles Tear, o coordenador do centro de emergências de Miami Beach, que estava perto do Maurice Gibb Park, que está a 60 centímetros acima do nível do mar, e que alaga regularmente.
Tear disse que ele e outras autoridades municipais voltaram suas atenções a previsões mais conservadoras, segundo as quais os mares vão ter aumento de 12,7 centímetros a 38 centímetros nos próximos 50 anos. "Não podemos olhar em 100 anos", disse. "Temos que olhar o lado realista."
Quaisquer que sejam as especificidades das previsões, Jimmy Morales, gestor municipal de Miami Beach, disse que ele e sua equipe tinham que considerar se "deveriam adotar premissas mais agressivas" sobre os efeitos das mudanças climáticas.
Autoridades locais estão ouvindo conselhos da Holanda, famosa por seus eficientes diques, mas a topografia muito diferente de Miami Beach e das cidades vizinhas não serve para os projetos de engenharia dos holandeses.
"Em último caso, você não pode derrotar a natureza, mas você pode aprender a viver com ela", disse Morales. "A capacidade humana é incrível, mas será que temos vontade política? A Holanda reserva US$ 1 bilhão por ano para conter inundações, e temos uma costa muito maior do que a deles."
Fonte: The New York Times
"Eu não acho que as pessoas tenham noção do quão vulnerável é a Flórida", disse Harold Wanless, presidente do departamento de ciência geológica da Universidade de Miami em uma entrevista na semana passada. "Vamos ganhar 1,2 ou 1,5 ou 1,8 metro de água, ou mais, até o fim do século. É necessário que se acorde para a realidade que está por vir."
O temor sobre o aumento do nível do mar não está restrito apenas aos muros das universidades, mas também dos governos locais ao longo da costa sul do Estado.
Os quatro condados da região - Broward, Miami-Dade, Monroe e Palm Beach, com uma população total de 5,6 milhões - formaram uma aliança para pensar em soluções.
Atingida há muito tempo por furacões, e propensa a ter inundações e intensas tempestades, a Flórida é o Estado mais vulnerável no país em relação ao aumento do nível dos oceanos.
Até mesmo previsões mais modestas do que as feitas por Wanless veem as partes mais baixas do litoral da Flórida com inundações mais frequentes por causa do derretimento das calotas polares e com o aumento do nível dos oceanos.
Grande parte dos 1,9 mil quilômetros da costa da Flórida está apenas a poucos metros acima do atual nível do mar, e prédios, estradas e outras estruturas de
bilhões de dólares ficam sobre estruturas altamente porosas de calcário, que sugam a água como esponjas.
Mas embora autoridades de Everglades e de outras cidades do litoral, muitas das quais participaram de uma conferência sobre mudanças climáticas na semana passada em Fort Lauderdale, tenham começado a falar do problema, a questão atraiu pouca atenção entre os legisladores de Tallahassee.
A questão parece ser igualmente confusa para outros segmentos da sociedade, como empresas, imobiliárias e turismo, que têm interesse em proteger a
movimentada economia do sul da Flórida.
"A comunidade empresarial em sua maior parte não é engajada", disse Wayne Pathman, um advogado de Miami e membro da Câmera do Comércio que participou da conferência de Fort Lauderdale. "Eles ainda não foram afetados. Ainda não entenderam as possibilidades."
Pathman disse que demandará um enorme esforço para encontrar respostas para as importantes questões. Em última análise, segundo ele, o indicador mais saliente da crise será a recusa da indústria de seguros de lidar com o risco nas áreas litorâneas de todo o país que estão expostas ao nível dos mares.
"As pessoas tendem a subestimar a gravidade, eu acho, porque soa distante", disse Ben Strauss, diretor do Programa da Elevação do Nível do Mar na Central do Clima, uma organização independente de cientistas. "As pessoas estão começando a se conscientizar, mas ainda não é uma prioridade. Miami é uma cidade em crescimento econômico agora, mas no futuro, que acredito que virá, será óbvio para todo mundo que o mar está avançando sobre o continente e não vai parar."
Os efeitos nos imóveis seriam devastadores, segundo Strauss. Sua pesquisa mostra que cerca de US$ 156 bilhões em propriedade, 300 mil casas, em 2.120 m² de terra estão a menos de 0,9 metros acima do nível da maré alta da Flórida.
No mesmo nível, segundo Strauss, a Flórida possui 4 mil quilômetros de estradas, 35 escolas públicas, uma hidrelétrica e 966 locais listados na Agência de Proteção Ambiental, como depósitos de resíduos e centros de tratamentos de esgoto.
O montante de imóveis, e o número certo de propriedades potencialmente afetadas, crescem a cada centímetro de elevação do nível dos oceanos.
Wanless insiste que nenhuma ideia da engenharia pode conter o avanço dos mares. "Em 60 centímetros a 90 centímetros começamos a perder tudo", disse.
A única solução, segundo ele, é considerar medidas drásticas como estabelecer um impedimento de construções ao longo da costa e obrigar residentes dessas
áreas de risco a se mudarem mais para o interior."
Autoridades locais dizem que estão fazendo o que podem.
"O céu não está caindo, mas o nível da água esta aumentando", disse Charles Tear, o coordenador do centro de emergências de Miami Beach, que estava perto do Maurice Gibb Park, que está a 60 centímetros acima do nível do mar, e que alaga regularmente.
Tear disse que ele e outras autoridades municipais voltaram suas atenções a previsões mais conservadoras, segundo as quais os mares vão ter aumento de 12,7 centímetros a 38 centímetros nos próximos 50 anos. "Não podemos olhar em 100 anos", disse. "Temos que olhar o lado realista."
Quaisquer que sejam as especificidades das previsões, Jimmy Morales, gestor municipal de Miami Beach, disse que ele e sua equipe tinham que considerar se "deveriam adotar premissas mais agressivas" sobre os efeitos das mudanças climáticas.
Autoridades locais estão ouvindo conselhos da Holanda, famosa por seus eficientes diques, mas a topografia muito diferente de Miami Beach e das cidades vizinhas não serve para os projetos de engenharia dos holandeses.
"Em último caso, você não pode derrotar a natureza, mas você pode aprender a viver com ela", disse Morales. "A capacidade humana é incrível, mas será que temos vontade política? A Holanda reserva US$ 1 bilhão por ano para conter inundações, e temos uma costa muito maior do que a deles."
Fonte: The New York Times